Na França, uma questão de safra
Na capital francesa não existe tabu de idade quando o assunto é sedução. E também não há invisibilidade para as mulheres maduras no país, onde novas relações acontecem em todas as idades.
A comissária de bordo carioca Elizabeth Caiado conheceu o fotógrafo francês Jean-Pierre Boille quando ela tinha 53 anos e ele 58. Beth foi pedida em casamento pouco tempo após o início do relacionamento, que começou numa paquera em Copacabana.
“Eu falava francês e o ajudei a se comunicar com um vendedor. Dali surgiu a atração e fomos tomar alguma coisa”, conta a comissária, hoje aposentada, aos 65 anos. Nada diferente de qualquer ‘azaração’ típica entre jovens. Na verdade, nada surpreendente para um típico cidadão francês.
Em Paris, a capital do romance e onde o casal Elizabeth e Jean-Pierre moram, não existe tabu de idade quando o assunto é sedução. Os dois eram divorciados, com filhos criados – e maduros o suficiente para terem uma única certeza: namorar é para sempre.
A história do casal franco-brasileiro apenas ilustra uma realidade contrastante com o senso comum brasileiro. Não se sabe muito bem como ou onde surgiu o conceito de que mulher aos 50 anos não seria mais interessante para ser uma boa companheira de cama, mesa e banho.
Padrões machistas? Ditadura da juventude feminina? Respostas ainda inconclusivas. Certo é que existe uma visão um tanto míope da sociedade brasileira em relação ao desejo feminino após os 50.
Quem melhor se aproximou e deu luz ao tema foi a antropóloga brasileira Mirian Goldenberg. Em seu livro ‘Coroas’ (Ed. Record), a antropóloga compara o que representa o peso da idade para brasileiras e europeias.
Ao dissertar sobre o tema da sexualidade após os 50, Mirian toca numa característica peculiar às brasileiras: a necessidade do olhar de aprovação masculino. Esse seria o ponto-chave da diferença de culturas.
Enquanto no Brasil as mulheres começam a se sentir ‘invisíveis’ com a proximidade dos 50, na França este fenômeno não existe. Mulheres de 50 são convidadas para sair com a mesma frequência das jovens. Os olhares e a aproximação dos homens nas ruas são recorrentes.
Aplicativos de paquera como o Tinder ou Hapnn estão cheios de homens e mulheres acima de 50, marcando encontros que vão dos casuais aos duradouros. Conheci um homem de 48 anos, separado, que dizia ter dificuldade em paquerar no trabalho, onde havia muitas mulheres solteiras, mas muito novinhas.
Surpresa foi saber que o cidadão referia-se a mulheres na faixa dos 35 anos. “Para mim a mulher tem que ter mais de 45”, confessou-me o maduro representante dos conterrâneos de Descartes.
É curioso observar uma sociedade na qual o olhar do homem parece acompanhar o seu tempo e maturação. Onde reside o segredo da naturalidade com que os franceses – e as francesas – encaram a sedução após os 50?
Ouso arriscar uma relação entre o comportamento sexual francês e o cultivo e apreciação do vinho, tão arraigados à cultura local. Assim como acontece com a bebida mais popular da França, no sexo à francesa cada etapa da maturação contém um sabor especial. Com seus valores e peculiaridades da idade, mas sempre proporcionando muito prazer à degustação.
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