Dialogando com o futuro
Pelas estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 30,5% da população brasileira terão mais de 60 anos em 2050. Ou seja, muitos de nossos filhos que nasceram no início de década de 90 serão considerados idosos. Em 2015, esse percentual era de 11,9%. Ou seja, em pouco mais de três décadas, o Brasil dará um salto rumo ao envelhecimento da sua população. E, muito provavelmente, chegará lá sem ter se preparado para isso, das calçadas esburacadas a um sistema de previdência deficitário. No Canadá, por exemplo, esse movimento está levando cem anos para se concretizar. Em 1950, eram 11,3% de canadenses com mais de 60 anos. Serão 30,1% em 2050. No Brasil, em 1950, eram 4,9%. Ou seja, o Brasil envelhece aceleradamente. Quais as consequências disso?
O tema foi discutido durante o 1º Diálogos da Longevidade, realizado pela Bradesco Seguros, em São Paulo, no último dia 10 de outubro, e que contou com a participação do médico e gerontólogo Alexandre Kalache, fundador do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC BR), e do também médico Jairo Bouer, especializado em temas como sexualidade e saúde e com trabalho voltado para o público jovem.
Não basta viver mais. É preciso viver bem e mais. E como conseguir isso? É preciso acumular quatro capitais ao longo da vida para assegurar uma velhice feliz. Segundo Kalache, são eles: o capital vital (cuidar da saúde), capital social (cuidar das relações, manter e fazer novas amizades), capital do conhecimento (aprender coisas novas sempre) e capital financeiro (guardar uma reserva para a velhice). Além destes, ele acrescenta um ponto fundamental: é preciso ter um propósito na vida. Não basta ser produtivo, ter uma carreira, acumular algum patrimônio. É importante fazer uma coisa de que se gosta, ter um sentido para a vida. Algo que te motive todas as manhãs.
“Cerca de 95% das pessoas dizem não estar preparadas para envelhecer”, atesta o gerontólogo, lembrando que a geração que está nascendo agora provavelmente passará dos cem anos, como sua neta.
Um dos desafios, nesse processo, é conectar os mais novos aos mais velhos, juntando-os em ambientes de trabalho e na esfera social. Doutor Jairo Bouer aponta as dificuldades de abordar o tema do envelhecimento com jovens para os quais mal se consegue falar sobre doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada e necessidade de exercícios físicos.
“Há uma cultura do imediatismo em que é muito difícil debater sobre a prevenção de doenças, por exemplo”, diz.
Os dois especialistas também abordaram sobre como envelhecer num mundo hiperconectado e que cria a falsa ilusão de que temos um milhão de amigos enquanto, muitas vezes, nos sentimos sós.
“A Inglaterra criou o Ministério da Solidão, numa medida demagógica, ao mesmo tempo em que fechou 500 bibliotecas. Ora, se as bibliotecas estivessem funcionando, receberiam pessoas, permitiriam uma troca de conhecimento, diminuiria a solidão”, atesta o doutor Kalache.
A pressão permanente pelo consumo, o uso intensivo das tecnologias e os recursos naturais finitos no planeta criam, portanto, desafios extras para um mundo que envelhece a passos largos. Enquanto soluções devem ser perseguidas pelos diferentes governos, cabe a cada um de nós administrar seu envelhecimento no plano pessoal, cuidando do corpo, da mente, do bolso… e mantendo o coração aquecido, generoso, sobretudo com as novas gerações.
*A equipe do Mulheres50mais viajou a convite da Bradesco Seguros.
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