Aproveitar aqui, enquanto estamos aqui. Porque não há aqui, lá.
Uma vez, uma grande amiga de faculdade, sagitariana, e muito diferente da virginiana que sou, me deu de presente um mega cartão que vinha com a seguinte frase: “É preciso aproveitar aqui, enquanto estamos aqui, porque não há aqui, lá”.
A referência tinha a ver com algumas conversas nossas e com a percepção que ela tinha de mim. Enquanto essa amiga é atirada e vive a vida apaixonadamente, eu sempre fui mais equilibrada e pensava dez vezes antes de me atirar de cabeça em alguma empreitada, especialmente se fosse amorosa.
A frase, me impactou. E até hoje, em alguns momentos, me lembro dela como uma referência de um toque sábio, que me deram. Tenho 54 anos e já vivi mais da metade da minha vida e muitas histórias. Algumas ótimas e que deram super certo. Outras nem tanto. E sempre me orgulhei de ter muito poucos arrependimentos na vida. Exatamente, porque sempre pensei antes de agir, nunca gostei de perder o controle e sempre me vi buscando coisas das quais não me arrependeria depois.
Também costumo dizer que sempre fui uma boa aluna em vários aspectos. Como gosto de aprender, quando me dão toques, procuro assimilar de verdade e ir pra frente, dando um salto adiante. Por isso, me considero uma boa paciente na terapia (não sei se a minha terapeuta vai concordar com isso). Em geral, a terapia funciona comigo. Vou adiante, ultrapasso as questões por assimilar bem os toques que recebo e as reflexões que faço. E acho que com isso, já mudei a trajetória da minha história algumas vezes.
Mas hoje, estou na fase de concordar mais com a frase em questão, do que de refletir, para não me arrepender. O arrependimento pode vir também de coisas que não se fez. E nesse campo, tenho mais arrependimentos do que não fiz, do que do que fiz. E chega uma fase da vida, que não dá mais pra perder tanto tempo. Na juventude, a gente não quer perder tempo, mas pode. Na maturidade, a gente acha que pode perder, já não é tão ansioso, mas não pode. A ampulheta vira e ele (o tempo) se vira contra nós.
Assim, depois de perder amigos, familiares e o meu grande amor, percebo que o tempo que se aproveita é o que está aqui. Exatamente porque não há aqui lá.
Refletindo sobre isso em vários aspectos, me vi pensando que essa é a grande sabedoria. As oportunidades surgem e, se você as deixa passar, elas podem não estar mais lá. Assim, como não dá para estar num lugar, querendo estar em outro. Ou numa situação, pensando estar em outra. Ou num estado civil, desejando estar em outro.
Fiquei viúva há quase dois anos. Foi uma barra. Até porque tinha um casamento muito legal, de grande parceria em todos os níveis. Mas aconteceu. Não foi o que eu queria que acontecesse, mas foi o que a vida me impôs. Decidi que não dá pra ficar chorando mais por querer estar casada. Ainda sofro com a saudade e com a ausência do meu companheiro de tantos anos. Mas agora estou solteira e devo aproveitar o que essa fase pode me dar: seja liberdade sem conciliação, novos conhecimentos, novos programas. Se eu ficar me lamentando pela condição que não tenho mais, não vou conseguir enxergar alguns bônus da nova situação. E eles sempre existem. Feliz ou Infelizmente.
Às vezes, percebo amigas separadas que continuam tristes porque queriam estar casadas e, amigas casadas, tristes porque queriam estar solteiras. A grande sabedoria para ser feliz, na minha opinião, é não querer estar numa situação onde não se está. Não gostar do que não se tem. Não querer ser de um jeito que não se é. Não estou dizendo com isso que devemos nos acomodar. De jeito nenhum. Devemos ser felizes com o que temos, mas se não dá, então temos que mudar, agir e transformar.
O aqui, é agora. O aqui, não existe lá. Vamos aproveitar enquanto estamos aqui, porque não há aqui, lá. E aí, o tempo já passou!
O texto de Liara Avellar é um daqueles que nos lembra do que nunca deveríamos nos esquecer: de viver a vida hoje. Agora. E desviar a rota, se for necessário, sem achar que estamos perdendo tempo…ou se estivermos infelizes (mas sem a obrigação de sermos felizes o tempo todo). De olhar para trás apenas para nos recordar do que foi bom. Sem arrependimentos. De ter coragem para re(começar), mesmo depois dos 50!