Uma implosão de hormônios

Com os 50, corpo passa por um turbilhão. É hora de reequilíbrio e de pensar em si mesma, ensina a professora Stella Torreão.

Alta, esguia, cabelos curtos castanhos claros, quase louro total. Os olhos azuis inquietos não deixam de fitar os interlocutores. A professora Stella Torreão está sempre atenta ao que escuta e pensa um pouco antes de responder, medindo as palavras. Esse tatear no início do encontro, numa tarde chuvosa na Lagoa, no Espaço Stella Torreão, dura alguns minutos e depois ela relaxa e se empolga ao falar sobre as transformações na chegada dos 50 e um pouco além. Menopausa, calores, hormônios, mudanças de humor, falta de vitaminas, pós-menopausa, saúde, tempo, mudanças no corpo e na mente. Os gestos se tornam largos, as palavras saem aos borbotões, Stella lembra de sua própria jornada após a menopausa e é taxativa:

“É como se corpo da gente tivesse um colapso. É uma implosão de hormônios. Outro momento, bem diferente de quando, adolescentes, tivemos a primeira menstruação, com os hormônios chegando com força total. Agora não, eles implodem, bagunçam tudo. E é nesse turbilhão que a gente percebe que precisa olhar para dentro de si mesma, se organizar e mudar hábitos, se cuidar”.

A professora Stella Torreão defende que as mulheres devem começar a cuidar de si antes da menopausa / Fotos: Ana Lúcia Araújo

A professora Stella Torreão defende que as mulheres devem começar a cuidar de si antes da menopausa / Fotos: Ana Lúcia Araújo

Aos 55 anos, Stella defende que as mulheres devem começar a cuidar de si antes da menopausa. Acostumadas a atender a todos que estão no entorno, tomando para si cada vez mais responsabilidades e cuidando de filhos, namorados ou namoradas, parceiras, maridos. Cuidando sempre de outras pessoas antes de pensar em si mesma.

“A gente não valoriza nossa saúde. A gente prioriza o trabalho, sempre atendendo aos outros e o tempo vai passando. Porque tem sempre aquela sensação de que depois vai dar tempo. E descuida da saúde. E não percebe que, sem saúde, nada rola. É um grande vacilo. Os estudos mostram que, aos 35, a gente já deve procurar um geriatra para entender esse envelhecimento e enfrentar as grandes mudanças”.

Stella prefere chamar a atenção para a pós-menopausa, o momento em que a mulher começa a sentir coisas sem saber o que é. Ela conta que, nessa época, chegou a fazer todos os exames possíveis. Até entender que os hormônios estavam, como gosta de dizer, implodindo. Hoje, ela conversa com outras mulheres que estão na mesma etapa da vida e repassa o que aprendeu.

“É preciso ter calma. O corpo precisa se adaptar a esse novo ciclo. Entender que a gente precisa cuidar da alimentação, fazer exercícios. Não bastam só os cremes. Entender que precisa trabalhar com exercícios que vão exigir de você 65% da função cardiorrespiratória e não mais aqueles 80% de antes. É entender o seu corpo”.

Jornada para ver o todo

Na jornada para entender o próprio corpo, Stella aproveitou sua larga experiência com atendimento multidisciplinar. O objetivo é ver o “todo”. Ela pratica yoga, faz meditação, acupuntura, exercícios regulares, hidroginástica e repete uma frase durante a entrevista: “A gente se cobra tanto e não percebe que a natureza age ao nosso favor, mas nós temos que fazer a nossa parte”. No Espaço Stella Torreão, oferece hidroterapia, exercícios aeróbicos, esteiras, além de atendimento que une nutrição e psicologia.

Mas o que fazer quando chegar esse momento?

“A coisa mais importante é ter um bom clínico. Eu acredito em medicina integrativa e você precisa de um médico que perceba isso. Alguém a quem você vai confiar a sua saúde. E você precisa manter qualidade de vida e isso é essencial. Procurar um nutricionista que vai te mostrar o que o seu corpo está perdendo e como podemos fazer para reduzir essa perda com uma boa alimentação. Fazer acupuntura com um especialista e não com um curioso. Procurar um lugar de confiança para fazer exercícios e não entrar em academias com projetos para a massa. Nessa fase, você quer um atendimento personalizado. A perda de hormônios em geral provoca outro tipo de reações além das físicas, pode deixar a pessoa triste, deprimida sem um porquê. E também são tantos vilões que aparecem: osteoporose, hipertensão, aumento de peso. A perda vai ocorrer. O que fará diferença é reduzi-la”.

Sobre a reposição hormonal, ela prefere não fazer. Para recompor, lança mão de uma boa alimentação orientada por uma nutricionista, acupuntura e, além das atividades físicas, pratica meditação todos os dias. E está sempre atenta à respiração. Até para andar na moto de 400 cilindradas. Antes de sair, ela respira, mentaliza, alinhando corpo e mente. Entender a respiração foi uma busca em sua viagem para Índia para conhecer de perto os benefícios do Raja Yoga. Foi ver e ouvir pessoas, ampliar seus conhecimentos. E o sonho de adolescente de cursar Medicina, que foi substituído por Educação Física, não a atormenta em nenhum instante. No ano passado, ela concluiu um curso em Medicina Integrativa no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Desde 2000 mantém o espaço que leva o seu nome com a sócia, a atriz Claudia Jimenez.

“Eu tenho orgulho de dizer que trabalho na prevenção, na transformação da vida das pessoas, uma coisa positiva. Não adianta só mudar por fora. Por exemplo, tem gente que exagera em intervenções como o botox e outras coisas, mas não cuida do seu interior. Depois não adianta culpar o médico. O corpo não será o mesmo dos 20 anos, mas se você entender que pode ter qualidade de vida e fazer exercícios que te beneficiem, com a percepção de que está fazendo uma coisa legal, vai te ajudar. Uma hidroginástica. Se você soubesse como esse contato com a água é importante… E não é apenas para os idosos. A hidroginástica é importante para todos nós. Eu trabalho de forma multidisciplinar e levo isso para minha vida e no meu dia a dia pratico a respiração. Com a respiração profunda, atinjo um outro estágio. Existem técnicas simples como a de cheirar a flor (inspira) e soprar a vela (expira)”.

"Somos mulheres poderosas, sobrevivemos a tudo e muito bem", acredita Stella.

“Somos mulheres poderosas, sobrevivemos a tudo e muito bem”, acredita Stella.

E as vitaminas?

Para Stella, a maioria desconhece que é preciso estar atento e buscar um bom médico. Ele poderá orientar a mulher para o fato de que o estresse e a falta de sono podem ter relação com as vitaminas de que o seu corpo está precisando.

“A gente não é obrigado a ter uma vida que não gosta. Somos mulheres poderosas, sobrevivemos a tudo e muito bem. Esse é um momento que a gente começa a se olhar e eu vejo que, infelizmente, tem muita gente que não percebe isso, está desprotegida, sem confiança”.

Uma hora depois, regada a duas garrafinhas de água de coco, uma de água mineral e um café, estamos as três rindo da coincidência de um encontro com três taurinas com idades próximas. Ela com 55, Ana com 54 e eu com 56. Uma conversa que permeia astrologia, sonhos, realizações e muita gargalhada. Coisas de taurinos festeiros.

Angelina Nunes

Angelina Nunes

Carioca, apaixonada pelo samba, ela tem pressa. Nasceu dentro de um trem da Central do Brasil, quando os pais tentavam chegar ao hospital na Tijuca. Está entre as jornalistas mais premiadas do Brasil, tendo conquistado Esso, Embratel, Vladimir Herzog, SIP, YPIS e Rey de España. Formada pela UFRJ, fez pós-graduação em Políticas Públicas no Iuperj e é mestre em Comunicação pela Uerj. Começou a trabalhar em 1980. Foi repórter e editora-assistente na Rádio MEC, TVE, TV Manchete, O Dia e O Globo. É professora na ESPM-RJ e integra o conselho da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), da qual foi presidente em 2008–2009. Adora viajar e inventar novas trilhas com a filha Bárbara e o parceiro Paulo. Gosta de dançar e cantar, de caminhar na praia ou no mato, de astrologia e tarot. Viciada em séries e em livros. Gosta de trabalhar em equipe e de fotografar. Não gosta de cozinhar, mas adora comer.

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