Dos 60 pra lá e de bem com a vida

Ultrapassar a barreira dos 60, assusta. A imagem que se tinha desse estágio de vida, somava necessariamente: rugas, gorduras localizadas, males da saúde como aumento da pressão arterial e, na mesma proporção, redução da libido e da capacidade produtiva. E impunha: roupas recatadas, corte de cabelo “apropriado” e um certo recolhimento.

Quando, porém, esta idade chega e torna-se uma realidade inarredável, você se põe diante do espelho e, num diálogo franco, se pergunta: o que mudou? A resposta é simples. Nada. Aquela gordurinha que você nota, se acumulou sob o queixo, no alto da coxa e nos quadris, na verdade vem acompanhando você nos últimos anos e com um pouco de movimento ela estaciona. Seus amigos, em geral da mesma geração, vêm vindo junto e, na mesma proporção, se modificam, sem que você deixe de perceber neles traços da juventude e as características que um dia os fez entrar em sua vida. E, talvez por cortesia, eles costumam dizer que você “está ótima”.

Sem querer ser mordaz, você pode, ainda, olhar para os lados, e observar que há amigas que foram menos poupadas pela ação do tempo. E, o que é melhor, na piscina ou na praia, num exercício comparativo, há muitas jovens que já adquiriam precocemente as celulites que só agora teimam em aparecer.

A capacidade intelectual vai bem, obrigada, graças ao acúmulo dos anos, quando você manteve os olhos bem abertos para o que se passou ao redor. E, que maravilha. Essas informações acumuladas permitem que você estabeleça paralelos entre as situações vividas e as que se apresentam, possibilitando atitudes melhor analisadas e reações mais calmas.

Aquelas paixões, que um dia fizeram com que você passasse por situações que beiraram o desvario (atire a primeira pedra quem nunca fez uma cena por amor!), deram lugar a um sentimento maduro, entre a admiração e o carinho, sobrando espaço para relações melhor construídas e com direito a boa dose de erotismo.

Com um pouco de abertura para o novo, você consegue dominar parte da tecnologia (nem pensar em conhecer tudo, pois aí já é pretensão. Somos de outra época).

Os programas culturais são melhor dosados. Longe vão os dias em que sua agenda impunha estar em dia com o que fosse “cult”. E, quanto à programação televisiva passa longe de mais de duas ou três horas por dia, pois os livros precisam continuar fazendo parte de sua rotina. Esses sim, grandes amigos, que levam você a passear pelo mundo todo, em tempos em que a grana encurta e reduzir é preciso. Sem sofrimento, pois o que a idade traz de melhor é a aceitação do vivido e do que está por vir. Atingimos aquele estágio em que o balanço, quando feito, precisa ser indulgente. O passado é imutável. Perdoamo-nos pelo não realizado. Quanto ao futuro, a Deus pertence, parodiando aquele ministro.

Denise Assis, especial para o Mulheres50mais

Denise Assis, especial para o Mulheres50mais

Mineira de Santos Dumont, dias depois de se formar, veio para o Rio com um único pensamento: conseguir um lugar no mercado de jornalista. Pois está nele há 40 anos. Fez de tudo um pouco na profissão. De cobertura de TV a redação de Esporte, passando por reportagens de cidade, economia, política e assessorias de imprensa. Pertenceu aos principais veículos de comunicação, como Manchete, O Globo, Jornal do Brasil, Veja, Isto É e Jornal O Dia, onde recebeu o prêmio Ayrton Senna de Jornalismo, pela edição de um caderno sobre Educação. É autora de livros, entre eles o "Propaganda e cinema a Serviço do Golpe", pelo qual foi homenageada com “Moção Honrosa” na Câmara dos Vereadores do Rio. Participou com quatro textos da coletânea “Resistência ao Golpe 2016”, livro lançado no calor dos acontecimentos, em julho do ano passado. Foi assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e assessora/pesquisadora da Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio), onde coordenou os trabalhos que culminaram na elucidação da explosão da bomba da OAB. Para desanuviar a cabeça ouve clássicos e MPB, toma um chopinho com os amigos e vai ao cinema e exposições. Gosta do mar, mas mantém dele uma distância típica de quem o respeita e admira. Praia, em geral, só fora do Rio.

1 Comment

  • Eneida Prado

    Viver e não ter vergonha de ser feliz!! Errar é errar..e não tervergonha de corrigir!

    7 de dezembro de 2017 em 8:43 am

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